Lúcia Miguel Pereira é reconhecida como um dos grandes nomes da crítica literária brasileira – e seus estudos fundamentais sobre Machado de Assis e sobre a ficção brasileira da virada do século 19 para o 20 permanecem leitura obrigatória até hoje. Menos conhecida, no entanto, é sua produção como ficcionista. Este "Ficção reunida" traz pela primeira vez num só volume sua obra literária. O livro contém os romances "Maria Luísa" (1933), "Em Surdina" (1933), "Amanhecer" (1938), "Cabra-cega" (1954) e o inédito conto “Uma Santa” (1933) – todos protagonizados por personagens femininos. Em seus romances, a escritora alcança a alma feminina e suas nuanças psicológicas em níveis altos. A mulher, com ela, compreende a consciência de sua natureza, de suas vivências e experiências. Sua obra romanesca acompanha a trajetória da mulher até alcançar sua liberdade, que não se restringe a sair de casa para “trabalhar ou pensar como homem”, mas a que se conquista quando se tem o direito de viver plenamente, sem que para isso seja necessário abdicar de sua natureza, que é diversa da natureza masculina. Para a professora de literatura Patrícia da Silva Cardoso, que escreve o posfácio da obra, Lúcia Miguel Pereira, juntamente com Rachel de Queiroz, foi fundamental no processo de transformação tanto da imagem feminina quanto do lugar ocupado pela mulher na sociedade ao longo do século XX.