Este livro é um bafejo pelo jardim dos sentidos: excede a visão, investiga cheiros com a boca, sorve gostos com a mão, mete os dedos pelas tranças do tempo e grita silêncios ao pé do ouvido. Fera em flor. Instinto & delicadeza. Sugiro: afie seu sorriso e abra bem o seu peito, pois nada aqui é pequeno ou inofensivo - por menor que seja. Um caracolzinho pode incendiar maremotos, voar sem paraquedas ou coisa mais perigosa: sucumbir à paixão. São poderes inexplicáveis de um poeta de nascença. Mario Pirata é assim: nada lhe passa incólume, tudo lhe diz respeito. A sua rima nos ensina: a buscar amores refugiados, afundar barcos disfarçados de porto seguro e a despertar os unicórnios que temos adentro. O autor tem pacto de sangue com a luta por dias melhores. Linha direta com as metáforas. É filho de santo das conchas do mar. Dúbio, fractal, equilibrista, cambaleante: um olho na âncora e outro no anzol do horizonte. A poesia das páginas a seguir sabe bem onde está indo. Persegui-la é escolha aventureira de quem não teme o texto estradeiro, sem bússola nem etiqueta. Que cada qual crie a sua ponte e se deixe levar pelos versos como quem diminui o passo para contemplar uma flor. Ou como quem abre as cortinas, deixando o sol entrar e libertar a malograda fera das rotinas.

Nanda Barreto