Diz o dito popular que um dia chega a vez do caçador e a caça vence. É mais ou menos essa a sensação do editor Marcelo Melo, chegou a sua vez de ser caçado. Depois de ter editado mais de 200 livros, ter criado uma editora de muito sucesso, a Negócio Editora, e ter retornado ao mercado com a Livros de Safra, resolveu publicar seu primeiro romance e mudar de lado, virar autor.

Eu não sei ter discute as relações familiares e coletivas pelo olhar de um narrador controversamente sincero. Mais do que um homem com dificuldades de se relacionar e de encontrar uma trajetória que lhe traga paz na vida, Justiniano é um homem disposto a encarar seus erros e a questionar os valores da amizade e da fidelidade.

Quando o seu grande amigo, Gregório sofre um grave acidente, Justo vê-se impelido a ir cada vez mais fundo em seus questionamentos, que envolvem não só o amigo, mas também Cândida, esposa de um e amante do outro. Eu não sei ter é um livro com narrador masculino, que faz os homens encararem o amadurecimento e suas limitações e inseguranças. Às mulheres revela alguns ângulos nem sempre claros ou desejados nos homens, mas presentes em quase todos eles.

Neste livro as relações familiares e coletivas são expostas aos sentimentos individuais e às divergências que geram. Os encontros e desencontros também se subordinam ao acaso e este, muitas vezes, pode descolar o destino do desejo. Marcelo Candido constrói seus personagens com humanidade e dá a eles liberdade para transitar e viver neste grande centro urbano que é São Paulo, uma cidade cada vez mais global e inserida na cultura contemporânea.