Estado crítico é o novo livro do poeta paulistano Régis Bonvicino. A partir de uma abordagem que levanta elementos contemporâneos, como o Facebook ou a Wikipédia, os poemas circulam pelo cenário da cidade grande, e registram eventos cotidianos através de um olhar “firme e interessado, mas nunca partidário”,como diz Alcir Pécora, que assina a orelha deste livro.

São muitas as referências que habitam os versos deste Estado crítico, tanto a poetas consagrados — Pound, Drummond, Baudelaire ou Neruda — quanto a um índio da tribo Akuntsu ou a um Elvis gordo, é através dessa multiplicidade que se constrói uma “implacável crítica da poesia”, segundo Pécora.

Os versos em português são muitas vezes interrompidos pelo espanhol ou pelo inglês, as línguas se sobrepõem umas às outras e conferem certa universalidade à poesia do autor. Régis Bonvicino é mesmo marcado pelo diálogo constante com poetas internacionais, seja o chinês Yao Feng, sejam os norte-americanos Robert Creeley e Charles Bernstein.

Bernstein, aliás, é o autor da breve e esclarecedora quarta capa deste livro, em que Bonvicino é definido como “uma espécie de flâneur do século XXI, um poeta lírico baudelairiano na era do capitalismo terminal, cujas duras narrativas do dia a dia e o uso recorrente de material da cultura popular seriam apenas requintados se não fossem, antes, descargas distópicas a infiltrar-se no próprio tecido prosódico”.