Nas doze histórias que compõem o primeiro livro de contos do jornalista e escritor Renato Lemos, ENQUANTO NOSSOS MENINOS DORMEM, onze homens e uma mulher falam em primeira pessoa. Gente comum, ordinária, voando abaixo do radar, ou seguindo suas vidas pequenas à sombra de uma desgraça pessoal ou de uma frustração dolorosa. Vivem seus descaminhos, desconfortos e desfocamentos. Neles, o “cheiro azedo de uma infelicidade” não pode ser lavado; a maioria traz o olhar cru, exercita o sexo à deriva, mergulha em violência insuspeita. Diversos são assombrados por fantasmas de rompimentos. Em todos, a vergonha e a banalidade da vida com seus fracassos cotidianos. No escuro, observam seus filhos adormecidos – nas sombras, contemplam o último território da inocência.

Mesmo quando desemboca em clímaxes de sexo e violência, a narrativa flui como seda – e, ao mesmo tempo, os personagens permanecem fraturados, pequenos, à margem. Na orelha do livro, o premiado escritor gaúcho Paulo Scott observa que Lemos mostra “releituras dessa eterna gangorra que são os relacionamentos humanos, os familiares, sobretudo. Com humor, estranheza (a necessária estranheza do conto), certa dose de audácia, sexo, fetichismo e ironia”.

“Um homem com uma falha”, descreve o autor, englobando seus personagens em um arquétipo que pode ser jovem, velho, pai, filho, homem, mulher. Das falhas, emanam os gestos, as decisões, os desdobramentos e uma quase completa ausência de ternura – uma falta que é, ela própria, uma chamada à ternura.