O livro é apresentado em formato especial com imagens de brasileiros e angolanos de todas as idades, retratados em diversas cidades daqui e daquele país africano tão intimamente ligado à constituição do Brasil.

Como lembra o historiador João José Reis, autor de um dos ensaios que compõem Ê POVO Ê, "O Brasil não pode ser compreendido sem a África. O Brasil é o país com a maior população negra depois da Nigéria. Hoje já se lêem e ouvem-se coisas assim frequentemente, e que são verdadeiras. Dizem respeito aos africanos trazidos para cá como escravos e a seus descendentes negros e mestiços. Menos comum é se divulgar que, na África, a região que compreende a atual Angola foi aquela que mais escravos forneceu para a região das Américas que depois veio a ser o Brasil. Isso empresta a este livro de Holanda Cavalcanti um sentido ainda mais expressivo".

O olhar sensível de Holanda Cavalcanti registra nas pessoas fotografadas a intimidade entre Angola e Brasil que o texto do historiador tematiza. Em praticamente todas as páginas de seu livro, fica quase impossível saber se estamos vendo brasileiros ou angolanos. Rostos, posturas, roupas, adereços, comportamentos, manifestações religiosas e, principalmente, a alegria e a beleza das pessoas, parecem ignorar a enorme distância física que separa os dois países.

Holanda fez inúmeras viagens de trabalho a Angola nos últimos anos e pôde retratar com calma e principalmente com paixão, seu povo. O mesmo aconteceu com os brasileiros, nos muitos deslocamentos que o seu trabalho a obrigou a fazer pelo país.

Seu livro, além de um registro belíssimo da gente do Brasil e de Angola, é de fato um instrumento de ligação entre a cultura de dois povos indissoluvelmente ligados pela construção do Brasil. Ou, conforme escreve Gilberto Gil no prefácio, "Para os que gostam do clique das câmaras, um convite à ação. Por isso a Bahia tem sido um dos lugares mais fotografados do mundo. Ontem Verger, hoje Holanda. A mesma atração pela beleza e o mesmo impulso amoroso trouxeram ontem e trazem hoje o interesse dos fotógrafos para perto do corpo e da alma da terra dos orixás e dos poetas".

Além do prefácio de Gilberto Gil, Ê POVO Ê apresenta textos de João José Reis, José Enrique Barreiro, Juca Ferreira e Renato da Silveira. Projeto gráfico, capa e edição de imagens de Marcos Paulo (Tatá) Ferreira.