Uma história sobre empatia e respeito às diferenças, seguindo o voo corajoso de uma barata
Com muita graça, livro infantil evoca heroína improvável para fazer os pequenos leitores refletirem sobre diversidade e preconceito

Gertrudes é uma protagonista bastante singular. Neste livro, não há nem sinal das princesas, fadas e humanos fofos que, em geral, dominam as páginas das narrativas infantis. Pois a personagem principal por aqui é ninguém menos que...uma barata-cascuda.
Nada em Dona Gê, aliás, é previsível. A começar pelo fato de que Gê,como é conhecida pelos mais íntimos, é uma barata para lá de diferente. Apesar de ter crescido num buraco imundo, escondido no esgoto, nossa heroína detesta sujeira. Única menina de uma família de cento e vinte e sete irmãos, vive irritada com os hábitos desleixados em casa. Limpeza e organização, para ela, são fundamentais.Até que um dia, cansada de tanta imundície e falta de privacidade, decide bater asas e tentar a vida lá em cima, à luz do dia.

Com muita criatividade e graça, a autora Babi Wrobel narra as aventuras e desventuras dessa improvável heroína. Gertrudes passa por grandes apuros para sobreviver em meio ao vaivém de sapatos e ao nojo dos humanos. Ao mesmo tempo, fica fascinada pelos encantos da vida que se desdobra na superfície, longe de seu esconderijo antigo. Vai ser o olhar empático e curioso de um humano —também ele um herói improvável — que irá acabar dando uma ajudinha fundamental para que Gertrudes encontre paz e um novo lar.

Dona Gê lança mão de uma narrativa lúdica, livre de lições pré-concebidas, para fazer os pequenos refletirem sobre empatia e preconceito, diversidade e respeito às diferenças. Dependendo de quem olhe, afinal, Gertrudes não é uma barata-cascuda, mas sim uma Leucophaea maderae. E, com um pouquinho de acolhimento e incentivo, ela prova que podemos ser quem a gente quiser.

TRECHO
Gertrudes teve que trabalhar muito para encontrar seu lugar ao sol. Vivia fugindo de chineladas, cachorros e gatos. Corria desesperadamente pelas calçadas, passava ligeira por avenidas movimentadas e, muitas vezes, teve que se esconder lá no fundo dos bueiros para não ser pisoteada.

Mesmo com todos esses problemas, Gertrudes não desistia da vida à luz do dia.. Ah, as pessoas, os jardins, as calçadas de pedras portuguesas...
De vez em quando, subia no alto de um poste e ficava lá, meio escondida, encantada com o vaivém de gente.