Neste livro se encontra um dos elementos de potência da poética de Glauco Mattoso: o “desilluminismo”, que ultrapassa o seu sentido óbvio. a não visão, a cegueira, é tomada como maneira de se relacionar com o mundo sobre a qual se apoia a voz lírica dos poemas, respondendo ao mundo a partir do paradigma da não iluminação das ideias que o circundam – que, de fato, não é o inverso da iluminação (iluminismo/esclarecimento), mas um outro ponto de partida para a compreensão das coisas e situações mundanas, cuja síntese se dá na tradição a que há muito se associa a poética mattosiana, na linha de Bocage, Gregório de Matos e Laurindo Rabello. a problemática mattosiana do desilluminismo se encerra na sua relação masoquista com o mundo – a situação de subjugado, eternamente vendado, no reduto da subversão sadomasoquista, situação esta que lhe dá a disposição de vivência/resistência. neste Desilluminismo, o segundo volume da coleção ‘cabeça de poeta’, temos 129 sonetos: as 113 peças que compõem o corpo principal do livro, o Desilluminismo ‘em si’, e os conjuntos complementares “A cegueira revista” (9 sonetos) e “Objectos de objecção” (7 sonetos), nos quais se têm as dificuldades impostas pela cegueira pela consciência de um mundo movente, não de um recorte estático e sem dinâmica de uma situação de marginalização social.