Vamos pôr os devidos pingos nos devidos is. Pra começo de conversa, o cinema é arte, sim, e das boas. E, sendo arte, será também Filosofia, já que é isso o que a boa arte, em quaisquer das formas que assuma, faz: pensar. Não somente os Bergmans, os Tar-kovskis, os Kurosawas, os Woody Allens, os Greenaways, enfim, não somente diretores dos chamados filmes de arte fazem pensar. Filmes singelos e (aparentemente) despretensiosos também são capazes de nos atingir em cheio. Uma cena belíssima, um diálogo inteligente, uma música colocada na hora certa, qualquer filme ou pedaço de filme pode ter sobre nós o mesmo efeito da leitura de um tratado filosófico.

Os ângulos do cinema a serem explorados pela Filosofia são inúmeros. E, claro, não estamos falando de interpretações oficiais, mas apenas de... interpretações. Algumas, entre tantas possíveis. Esta é a idéia. A coleção Cinema & Filosofia da Nankin Editorial pretende oferecer ao cinéfilo uma leitura diferente para seus filmes e diretores preferidos. Não se notará aqui uma grande preocupação com detalhes técnicos, como iluminação, cortes, edição, posição de câmera, ou qualquer outro. A perspectiva será sempre, é bom lembrar, filosófica. Detalhes técnicos serão considerados apenas quando interessantes para a compreensão de algum conceito que se pretenda discutir. O pano de fundo (e área de domínio) dos autores da coleção será sempre a Filosofia.

Nesse sentido, nosso abre-alas não poderia ser melhor. O autor do primeiro livro da coleção é Julio Cabrera, brilhante professor da UnB e já com grande experiência no assunto. O leitor perceberá que a escrita do professor Cabrera é de uma fluidez e simplicidade que torna leves temas originalmente pesados. Exatamente a filosofia da coleção. Espero que agrade a vocês como agradou a mim. Voltaremos a nos encontrar no segundo volume, que será inteiramente dedicado à filosofia de
Woody Allen.

(Flávio Paranhos)