Curitibanas é um pouco nossas Dublinenses. Curitiba não chega a ser a cidade de Joyce, mas tem algo em comum com Dublin. Ambas teimam em guardar a mais absoluta estranheza com o resto do mundo. Daí a sutileza destes contos de Marina Amaral, que mergulha nos 6/7 submersos do iceberg, um universo insondável em que o desejo reina supremo sobre as convenções e manda tudo o mais pro inferno. Estranho lugar, esta Curitiba que, nos anos de fingida inocência, se chamava de Cidade Sorriso, mas depois se revelaria, orgulhosa até, como a urbe da Boca Maldita, epicentro de toda maledicência local. A Boca logo repercutiria nacionalmente: manifestações como o primeiro comício do movimento “Diretas Já!” e a campanha de Lula à Presidência escolheram a Boca Maldita como seu ponto de partida. E a cidade vive hoje a controvertida notoriedade como sede da Operação Lava-Jato, a ponto de ter sido batizada República de Curitiba.

Hypocrite lecteur, mon semblable, mon frère! (rima com Baudelaire), penetre nos meandros deste labirinto da vida oculta da classe média curitibana do século passado, em que nada, no fundo, era o que parecia ser na plácida e enganosa superfície.

Roberto Muggiati