Um dos movimentos que regem os poemas de Paulo Fichtner parece ser o do distúrbio saudável do sono quando este está em seu mais profundo estado, pois o autor se mostra todo o tempo um observador lúcido de seus próprios sonhos e inconsciências, como alguém que, com facilidade, capta e absorve os sentidos variados, ímpares e naturais cujos mistérios se espalham pelo universo em que se criam os corpos. Corpos estes conduzidos pela construção sutil, estudada e delicada das palavras e estrofes de que se fazem membros. Pode-se dizer que este é um livro de alma e distúrbio, que serão traduzidos pelo leitor.

Paulo provoca uma expansão ilimitada de afeto e pensamento, mesmo que seja a própria expansão formada e reverberada de dentro do casulo em que ele se deita, uma espécie de ovo sem casca e cheio de gema, assim como há muitos infinitos dentro de um livro, estando ele fechado ou não.

Tanto a produção de Fichtner nesse livro quanto um livro em si são acontecimentos, existências, que transbordam de seus limites através de uma explosão singela e inevitável, como se fosse um carinho de dentro para fora. Um autor pode sim estar fadado a encontrar limites, sendo internos ou externos, ou a inventar seus limites. No caso desta obra, se existiu algum limite, ele se desintegrará assim que lido pelos olhos que o apontarem. Aqui há um fio condutor na narrativa que nos faz oscilar como oscila o equilibrista numa corda bamba. Oscila, mas chega ao outro lado. Nunca saberemos dos limites de Paulo Fichtner enquanto estivermos lendo seu livro, pois sua pulsão é de expansão, uma eterna busca por encontros e desencontros que tornam o poeta possível.