João Carino é um contador de histórias e neste livro ele faz exatamente isso, a não ser por um pequeno detalhe. Os causos, podemos dizer, foram um dia fatos, que, sob a pena do escritor, se tornaram ficções.

Despretensiosamente, Carino criou histórias com o jeitinho muito carioca de ser. Ele nos oferece mesmo um passeio pela cidade, visto que com os contos visitamos ruas, costumes, pontos turísticos, a sociedade artística, a verve boêmia e peculiaridades da humanidade. Ora com nostalgia, ora com picardia. E, sem nenhum medo do cancelamento moderno, Carino deixa sua marca bem evidente.

Os narradores despojados de cada conto embalam uma conversa com os leitores que poderia se estender por horas, ou páginas. Mas, espertos, se utilizam do artifício do ponto final para deixar seus interlocutores com aquela sensação de sorriso de canto de boca que vem quando terminamos de ler alguma coisa boa.

Abrir este Contos quase reais é experimentar momentos de leveza e diversão. As fotos que acompanham cada texto proporcionam uma camada a mais de leitura. E as canções, cujas versões foram cuidadosamente indicadas pelo autor, criam a ambiência de leitura perfeita. É como se Carino tirasse o leitor para dançar e conduzisse seus passos, ou olhos, por cada palavra sugerindo sonoridades e entonações. Este é um livro para ser lido, e também sentido e ouvido. Aproveite!

Luciana Figueiredo
Doutora em Estudos de Literatura