Obra de Gabriel Geluda e Gabriel Pardal convida a refletir sobre como a vida é feita, também, de tudo o que escapa à ideia de normalidade.

Desajustes estão aí pelo mundo, o tempo todo. Algo fora do suposto lugar, uma curva onde era para só haver retas. Máquinas, bichos e plantas podem ser desajustados. Crianças também. Pode acontecer de cada pessoa ter um desajuste só seu, diferente dos demais. E de o desajuste de um parecer que se encaixa muito bem no desajuste do outro. Ou, melhor dizendo: de algumas pessoas descobrirem como é divertido se desencaixar em conjunto.

Em Clube dos desajustados, novo livro da Editora Rebuliço, Gabriel Geluda e Gabriel Pardal celebram a diversidade da vida que não cabe nos padrões. Não à toa, por suas páginas, pulsam ilustrações que lembram a arte pop e onírica dos grafites: um universo vibrante e surpreendente, onde sempre há algum detalhe que escapa do óbvio. Com uma narrativa cheia de poesia e bom humor, a obra apresenta personagens que nutrem desajustes muito especiais.

Lenito, por exemplo, não se ajusta ao tempo: prefere viver no seu próprio ritmo, que é bem devagarinho. Catarina coleciona quinquilharias, viciada que é em bricolar o mundo. Altamira gosta tanto de altura que tem meio que a cabeça no céu. Gotardo flui como um rio, sobe e desce como as marés. Mascarenhas, por sua vez, inventa mil fantasias. E Diva só sabe falar cantando.

É por serem desajustados que encontraram uns aos outros. E foram gostando tanto de como os desajustes se esbarravam e se acalentavam entre si que decidiram fundar um clube. Existe, afinal, uma forte onda de energia que conecta todos os desajustados do mundo. Nem sempre é fácil perceber. Mas, olhando com cuidado, lá nas frestas e festas, dá para enxergar como, juntos, eles deixam tudo ao redor mais interessante. No clube inventado por essa turma, o importante é deixar os desajustes fluírem soltos. Valorizar o tempo livre e a arte do encontro. Aproveitar a vida, que também é ruído e remendo, gambiarra e engasgo. Com esse livro, que é um elogio à empatia e à camaradagem, a dupla de autores estimula as crianças a refletirem sobre como a ideia de normalidade pode esconder um mundo de infinitas possibilidades.