Este livro é resultado de um grande e profícuo encontro de autores que se propuseram a pensar os aspectos contemporâneos sobre a clínica e a importância de seu aspecto político. A dobradura em origami, aqui, se apresenta em uma forma de beleza que faz re (animar) aqueles que se dedicam ao delicado ofício da clínica, que em tempos duros se sentem sufocar por medidas autoritárias, que reforçam a lógica manicomial em suas diversas camadas. Mas que não recuam a seu ofício eticamente referenciado. Fazendo-nos lembrar que, para tanto, é necessário estar bem firmemente situado nos vieses antimanicomial, anticapitalista, antirracista, feminista– interseccionados -, pois, somente assim, lograremos fazer frente ao fascismo (im)posto e poder (re)afirmar a democracia.

O livro que o leitor tem em mãos não é um livro comum. Também não é um livro que se lê em poucas noites. É leitura para ser feita com um ritmo mais lento, aproveitando os detalhes. Cada capítulo se revela como uma grande viagem, produzindo impactos e reflexões diversas. Ora a viagem fica com elementos mais teóricos, ora mais empíricos, mas sempre viagem, com as surpresas que qualquer uma traz, desde que o viajante se deixe levar pelos diferentes espaços, narrativas, paisagens.

A clínica, a saúde mental e a política. Esta é a viagem; este é o trinômio que atravessa o livro. Em primeiro lugar, destaco a clínica, que, surge, delicada, singular, ora se mostrando através dos casos, em pequenas vinhetas ou fragmentos, ora por pesquisas mais estruturadas. De toda maneira, os textos vêm ancorados teoricamente e mostrando, de modo inequívoco, que os autores não recuam diante da complexidade das situações de crise que enfrentam e/ou estudam (psicose, crianças em situação de rua, violências etc). Crises, que, por óbvio, se ampliam no momento atual do país.

por Rita Louzada.