Por meio de um lirismo que se volta para as questões existenciais, e um olhar inconformado e crítico, de denúncia da realidade, o eixo central da obra tem a ver com o fato de a autora estar "nesta tristonha e, ao mesmo tempo, esfuziante fase da vida: o começo do fim". Ela diz ainda que buscou refletir sua visão sobre a vida e os problemas contemporâneos. "Quis falar sobre esse mundo em constante transformação e cheio de dificuldades, como falta de solidariedade, crise de valores e a decadência moral. Este é o lado amargo do chocolate", explica.

Organizado em cinco partes — Chocolate amargo, Alma, A caminho de Santiago, Provocações e Post Scriptum — , a obra é composta em sua maioria por versos livres. Em um poema, dedicado a Boris Vian, escritor antimilitarista e anarquista francês, ela critica a tirania de um imperador. "Se a pátria pede sangue / por que não dá o seu? / Por que matar o moço / que ainda não viveu?".

Já a poesia A caminho de Santiago aborda o caráter místico que envolve a cidade de Santiago de Compostela, no qual a autora esteve cinco vezes, percorrendo alguns trechos. Há também temas caracterizados pela denúncia social e crítica aos símbolos e ideais burgueses, como em O diamante, no qual indaga: "Para que o diamante / traz alegria ao homem (ou a mulher amante) / mais que somente o amor/ sem ornamentos? / porém ele próprio / escava no homem / minas de sangue / enquanto ilumina a miséria humana".

A escritora ressalta que não buscou estilos de outros autores consagrados. "Vejo as influências de Carlos Drummond de Andrade, Manoel de Barros e dos grandes escritores mais em minha vida do que na minha obra", reconhece a autora.

Com 112 páginas, Chocolate amargo é o quarto livro de Renata Palottini publicado pela Editora Brasiliense, que também lançou O que é dramaturgia, da Coleção Primeiros Passos, As três Rainhas Magas, livro infantil sobre as mulheres dos reis magos, e romance Nosotros.