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Qual o sentido da vida e, por conseguinte, da morte? Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Qual é a nossa verdadeira casa? Será o fluir do tempo, com a passagem implacável da existência à ruína, a única realidade à qual estamos sujeitos? Qual o verdadeiro significado do amor, se estamos fadados ao pó, àquele “nada que havemos de ser”, como dizia Vieira? A vida, que tanto nos afeiçoa, é apenas regida pelo acaso? Teremos direito ao sonho, nós, que palmilhamos o mundo extraviados, cegos pela cerração, mendigos a amealhar migalhas de conhecimento, desde o princípio condenados à traição e à derrota? A obra poética de Alexei Bueno, cuja construção venho acompanhando de perto há mais de duas décadas, com admiração e espanto crescentes, gira em torno de problemas tão fundamentais e insilenciáveis que facilmente se poderia cair na armadilha de enfeixá-la sob o rótulo de poesia filosófica. Se assim for, que se entenda que a sua poesia é participante no melhor sentido do termo, pois, nela, os problemas filosóficos não surgem como uma preocupação estranha à beleza ou uma impureza que prejudicaria a arte; são, antes, a própria argamassa que une os tijolos do seu edifício poético, dos mais sólidos já erguidos ao longo da história da poesia brasileira. A partir de cenas corriqueiras, observadas numa rua qualquer do centro do Rio de Janeiro, Alexei consegue estabelecer uma ponte para a transcendência e o sublime, a exemplo do que ocorre, no presente livro, no poema “Episódio”.
No prefácio que escreveu para uma recente antologia poética do autor, editada em Portugal, o crítico Arnaldo Saraiva não se absteve diante da possibilidade de considerá-lo, de saída, “a mais poderosa voz da poesia brasileira revelada nas últimas décadas”. Poeta extremamente culto, também ensaísta e tradutor de poesia (é impossível não o alinhar, nessa tripla condição, a nomes como Manuel Bandeira ou Ivan Junqueira, de quem, aliás, foi grande amigo), Alexei é um poeta erudito até a medula do mais curto dos seus versos, e a diversidade de temas que aborda em sua poesia, incluindo a releitura e a ressignificação de mitos, personagens ou episódios históricos, faz de sua obra poética uma espécie de suma ou repositório de toda a nossa tradição — como acontece, de resto, com a obra dos grandes criadores literários, seja qual for o gênero a que se dediquem.
Mas há também, em sua poesia, um forte componente autobiográfico ainda não percebido pela crítica. Isto porque, não poucas vezes, é a partir de uma dor pessoal que ele reflete sobre as dores do mundo — e reflete não apenas com o cérebro, mas “com todo o corpo e toda a alma, com o sangue, com o tutano dos ossos, com o coração, com os pulmões, com o ventre, com a vida”, como diria Unamuno. Seu edifício poético, portanto, apresenta-se às vezes com feição de templo, do qual o poeta é, ao mesmo tempo, oficiante e vítima do sacrifício. Se a dor o fere “como às cordas de um instrumento”, paga o poeta o preço de sê-lo, e assim “queima, mas queima iluminando”, e queima até fazendo graça, à maneira de um novo São Lourenço.
O poeta, enfim, tem plena consciência de que somos todos passantes; “símios com a mão no celular”, vamos a algum lugar que não sabemos ao certo onde fica, às vezes dando voltas e voltas, felizes e despreocupados como crianças num carrossel, até o advento daquela “boa hora” que nos iguala a todos, mendigos e reis, todos de olhos então desvendados, juntos e enlaçados para a dança final.
CARLOS NEWTON JÚNIOR
Nome
CERRAÇÃO
CodBarra
9788582977972
Segmento
Literatura e Ficção
Encadernação
Brochura
Idioma
Português
Data Lançamento
27/08/2019
Páginas
Peso
400,00
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