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Cela 3 – A grade agride, de Rudá de Andrade, é um livro de viagem. Em mais de um sentido: no primeiro, mais coloquial, por relatar uma viagem à Europa, no início dos anos 1980; no segundo, mais metafórico, por descrever uma “viagem” por um mundo desconhecido: o das prisões européias. O pequeno, mas grandemente instigante relato possui 152 páginas e prefácio de Olgária Matos, trazendo, ainda, partes da correspondência enviada da prisão por Rudá de Andrade a Laerte Coaracy.
O nome do autor de Cela 3 é conhecido, desde sua origem, pois se trata do filho de Oswald de Andrade e Pagu. Mas aqui Rudá de Andrade é um brasileiro anônimo, comum, que se vê enredado numa trama internacional infelizmente também algo comum no mundo contemporâneo. Em algum momento de uma viagem à França com escalas no Senegal e na Suíça, aparece em sua bagagem um pacote de cocaína. Descoberto o pacote pela polícia de fronteira francesa, Rudá é preso. Começa um período (algo kafkiano) de dez meses de cárcere.
O livro se insere, assim, na longa tradição literária das memórias de prisão, que vem do Tristium de Horácio, passa pela Balada do cárcere de Reading de Oscar Wilde, e pelas Memórias do cárcere de Graciliano Ramos. E inclui os relatos de observadores, como o de Tchecov sobre a ilha-prisão de Sacalina, ou o de Dráuzio Valera em Estação Carandiru. Pois Rudá é, como Wilde, o escritor-prisioneiro, e como Varela, é também um observador sagaz de um universo sociológico e humano (imigrantes, clandestinos, criminosos, párias) ao qual não pertence.
O interesse nessa literatura não é difícil de compreender. Há, de um lado, o contato com um mundo particular, que fascina e assusta, e fascina porque assusta. De outro, há a chance rara, como num experimento científico, de observar indivíduos de modo minucioso, detalhado e detalhista, ao longo de todo o dia, dia após dia. Por fim, há um retrato do mundo e da sociedade da época, pois a prisão é sempre um microcosmo. Neste caso, há ainda a particularidade de o relato ser de um duplo outsider: seu olhar é de fora por não ser o autor um criminoso, e por ser um brasileiro submergido nos meandros de uma prisão européia.
Rudá de Andrade é observador perspicaz, incluindo suas reações às circunstâncias, as próprias circunstâncias e os indivíduos com os quais passa a conviver, de gentis mas indiferentes guardas da imigração a criminosos de vários países e matizes. O texto é ágil, e capta com muita ironia, profundo humanismo e grande poder de descrição o inusitado das situações, bem como a variedade de tipos (é preciso explicitar que Rudá de Andrade se revela um grande escritor: basta ler, a seguir, o parágrafo de abertura, com a surpreendente descrição de um beijo).
A história se passa há 25 anos. Mas, por ironia, o universo de uma prisão da imigração na Europa é, hoje, mais próximo do grande público do que então. Pois o mundo globalizado é um mundo de grandes fluxos migratórios e de criminalidade internacional, e desse mundo fazem parte essas prisões. O que era, à época, um universo paralelo – para usar a linguagem da ficção científica – é hoje parte constante dos noticiários. A história fez o pequeno e instigante relato de Rudá de Andrade (Prêmio Jabuti 1983) tornar-se nosso contemporâneo.
Nome
CELA 3: A GRADE AGRIDE
CodBarra
9788525043979
Segmento
Literatura e Ficção
Encadernação
Brochura
Idioma
Português
Data Lançamento
Páginas
152
Peso
225,00
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