Qual é a relação entre o apartamento paulistano vivido por Caetano Veloso como “uma profissão de fé tropicalista” e a eclosão da bossa-nova na residência de Nara Leão em Copacabana? O que há em comum entre a cozinha da casa-grande oitocentista, as prescrições de aleitamento definidas pelos impérios coloniais e as condutas de bem viver e de bom gosto em decoração do século XXI? Ou entre a casa modernista projetada pelo arquiteto Vilanova Artigas e as “casas de tomar conta” de crianças pobres que não conseguem vagas nas creches públicas? Inusitadas, essas e outras relações são exploradas no livro com o auxílio de fontes e assuntos variados. Casas são artefatos que inscrevem subjetividades, hierarquias, memórias, moralidades, maneiras de estar no espaço. Caleidoscópicas, elas fixam tipologias de habitação, expressões estéticas e arranjos de sociabilidade. Vividas, narradas, lembradas, filmadas ou cantadas, elas atiçam imaginários de liberdade e exibem fraturas sociais. Mais que janelas para o mundo, as casas trazem o mundo dentro delas. Integrado por 16 ensaios e 18 autores e autoras, o livro mostra a potência das casas para a apreensão renovada do mundo social. Os grandes escritores sabem disso; a antropologia, a história, a arquitetura, a sociologia avizinham-se cada vez mais desse conhecimento. Esta é a aposta do livro.