Oito personagens identificadas com figuras de cartas de um velho baralho. Damas, Valetes, Rei e Coringa que fogem das folhas calcinadas de um livro para viver aventuras em eventos reais que se conectam: Era Vargas, Segunda Guerra, Juscelino e Brasília, Bossa-Nova, Golpe Militar, Guerrilha, Exílio, Repressão... O pano de fundo é o Rio de Janeiro – a Cidade Maravilhosa, metrópole moderna e capital dos sonhos e dos desejos de homens e mulheres vindos de todos os cantos – com sua sociedade sensorial, dinâmica, tolerante e multicultural, onde convivem covardia, generosidade, crueldade, paixão, audácia, frieza e morte...

Nesse seu primeiro romance, Carlos Porto ajusta fatos conhecidos, reinventa feitos encobertos e introduz gentes ausentes. Mantendo a tensão entre o acontecido e o imaginado, seus personagens se metem resolutamente em acontecimentos originados na então capital da Republica e centro do poder político. Presenças que numa mesma hora de um dia preciso, num já distante verão, dentro de um quadrilátero situado entre os bairros de Laranjeiras, Catete, Glória e Botafogo pertencem, no entanto, a um horizonte espacial muito mais amplo e aos diversos extratos da complexa e facetada sociedade urbana carioca.

Esse o talento maior de Carlos Porto e suas Cartas Cruzadas: revelar, pouco a pouco, a riqueza da trama completa e as minúcias psicológicas dos personagens. Almas vivas, desvalidas, líricas. Trata a todos, sem exceção, com afeto e compreensão, desvendando assim, seu amor e, principalmente, o seu respeito pelas fraquezas e descaminhos daqueles que frequentaram sua vida e imaginário. Nunca os abandona e os conduz, carinhosamente, sempre.