"Na cultura brasileira na primeira metade do século XIX, os versos, a prosa-poética e o teatro de Gonçalves Dias introduzem temas que transfiguram o ideal romântico de evolução da nação, reorganizando a forma literária em novos padrões. Ascende no cenário artístico da época retirando a literatura brasileira do desgaste gerado pelo modelo neoclássico.

A recriação elevada da cultura indígena como modelo ideal do “ethos” nacional, e da índole guerreira do índio, como metáfora do desafio que o projeto de reconstrução do país implicava, resume a tentativa de fundar e unificar o conjunto de habitantes em torno do sentimento de fazer parte da nação.

Casar a romântica exploração dos sentimentos interiores com a neoclássica função da arte de educar a humanidade rumo um ideal de civilização ética não era tarefa que dependia, como Gonçalves de Magalhães, apenas da vontade de se tornar “gênio” da pátria. Foi imperativo fundamentar o engenho poético numa sólida reflexão sobre os problemas mais prementes da sociedade e da cultura da época.

Ao ajustar o foco poético da atenção aos extratos da população economicamente marginalizados, ao homem pobre livre, à figura feminina desprotegida e ao velho socialmente desamparado, Gonçalves Dias logra transfigurar sentimentalmente temas e personagens que até então não possuíam estatuto poético elevado. Definem-se, a partir de então, os rumos que a literatura brasileira vai seguir até mais ou menos o final do século e adentrar o seguinte por obra dos modernistas."

Cilaine Alves Cunha