Em Cacto na boca, Gianni Gianni constrói, na forma de peça teatral, uma denúncia do teatro intolerável em que a vida se converte. Nesse palco, sua voz se ergue para dizer que se nega a continuar atuando e, mais ainda, a aceitar os papéis a que tem sido relegada pelo "colega branco", pela "amiga branca", pelo "crítico branco". O fato de essas figuras serem bem pouco ou nada ficcionais (não demora para que os leitores reconheçam, no palco do poema, seus próprios papéis) explica a urgência dessa poesia. "É sempre útil ter um cacto à mão", ainda mais se lhe couber o papel de "atriz não branca" nessa peça em que vão lhe dizer que não vale gritar, em que sempre aparecerá alguém para lhe enfiar as "regras do jogo" goela abaixo. Os versos de Gianni, no entanto, são a prova de que os cactos engolidos podem se transformar "numa metralhadora de espinhos [...] na garganta".