Escrever contos é tarefa árdua, é correr riscos. Ainda mais quando se tem como referência autores como Galeano, Poe, Drummond, Sabino, Gogol, João do Rio, Graciliano, Sérgio Sant’Anna, Hemingway, Horácio Quiroga, Bukowski, Woody Allen, alguns que fazem do conto um tipo de literatura maior. Para um aviador como Celso de Lanteuil, cuja formação profissional se funda em conhecimentos técnicos, o processo de criação literária cruza essa linha estreita que ora empurra para uma linguagem rígida, ora seduz a imaginar onde se irá pousar em caso de emergência. Difícil não se sentir intimidado e se deixar levar pelo espírito destemido de Saint-Exupéry.

A pergunta que o instiga é: como transitar entre realidade e ficção, podendo uma dessas ser a origem da outra, mas não necessariamente nessa ordem, abdicando do pensamento puramente racional? Como libertar o cérebro treinado a repetir procedimentos operacionais, que usa uma linguagem especializada de aviação, pondo de lado o pudor e os mais arraigados preconceitos? Afinal, como será inventar ou adaptar realidade e ficção sem utilizar os shoulder harness que as normas de segurança nos exigem? Esse foi o elemento desencadeador da necessidade do autor de publicar este primeiro livro de contos Cabeça e chão, editado pela Ibis Libris, e poder dividir essa navegação, que se inicia por aerovias, onde nem sempre a previsão meteorológica é confiável.