Fim dos anos 1950 (ou começo dos 1960), uma menina, ao remexer uma gaveta com quinquilharias e velhas fotografias descobre um segredo de família. Seu pai, antes de se casar com sua mãe, viveu dezoito anos com outra mulher... Alguns escla-recimentos necessários: a menina é a autora do livro, Ana Luísa Martins, seu pai, o conhecido jornalista e crítico de arte Luís Martins, sua mãe, a escritora Anna Maria Martins e, para com-pletar, a outra mulher é Tarsila do Amaral.

Depois que o triângulo amoroso deixou de ser segredo, a menina continuou carregando o assunto com discrição, afinal, por conta dessa história, sua mãe foi deserdada e uma boa par-te da tradicional família Amaral rompeu com todos eles. “Meu pai, Luís Martins, foi o último companheiro da pinto-ra Tarsila do Amaral. Tinha vinte e seis anos quando a conhe-ceu. Ela, quarenta e sete. Uma diferença de idade de mais de vinte anos que, se nos dias de hoje ainda é capaz de chocar – quando a mulher é que é a mais velha –, em 1933 era conside-rada quase uma perversão”, diz a autora logo nas primeiras páginas. Essa história, sem outro ingrediente qualquer, já é passí-vel de se tornar enredo de novela, e torna-se ainda mais inte-ressante e ganha mais emoção por ser narrada pelas cartas de Tarsila e Anna Maria destinadas a Luís Martins.

As correspondências aqui apresentadas e as crônicas as-sinadas por Luís Martins mostram o emaranhado de emoções provocado pelo triângulo amoroso.