O livro ''Águas para quem(m): grandes obras hídricas e conflitos territoriais no Ceará'' recebeu menção honrosa no prêmio Maurício de Abreu da Associação Nacional da Pós-graduação em Geografia em Porto Alegre na UFRGS. Trata-se de um trabalho dedicado a entender os conflitos que marcam a produção do espaço na região do Cariri-CE, especialmente com a construção do Cinturão das Águas do Ceará (CAC), e a formação histórica e atual das comunidades tradicionais que habitam no mesmo local e sofrem com os impactos de uma obra que os ignora. Para enfrentar a leitura desses processos, o autor lança mão de duas ferramentas fundamentais, a contundência e a sensibilidade necessárias para enfrentar um desafio desse tamanho. Contundência para explicar que a transformação da região do Cariri ao longo do tempo se faz a partir de uma tensão permanente entre:  os povos que constroem sua vida lá; as elites locais e regionais que pretendem manter sua hegemonia econômica e política (em sintonia com lógicas de acumulação ligadas às escalas nacional e internacional); o Estado ausente-presente que promove um desenvolvimento que sempre é para poucos; e as condições socioecológicas de um território com a identidade marcada pelo convívio com a escassez, que não ausência, de água. Mas também, sensibilidade necessária para escutar as pessoas que contam suas histórias de esperança, de vida, de derrotas, de espanto, de tenacidade… Para ler a paisagem abruptamente modificada do Cariri pelo CAC. Para se contagiar com a alegria e o esforço das resistências que não cessam, trazendo “no peito o cheiro e a cor de sua terra, a marca de sangue de seus mortos e a certeza de luta de seus vivos” (François Silvestre, cantador). O espaço no livro do Anderson, portanto, está tão vivo como o tempo e ambos se enlaçam dando sentido e se constituindo no cerne da construção social.