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Cyro dos Anjos é um autor que se pode chamar de “sóbrio”. Sóbrio no estilo literário, sóbrio na quantidade de títulos, sóbrio na personalidade. O mesmo, porém, não se pode dizer do personagem-título de seu segundo romance, Abdias, que a Globo ora relança como parte das “Obras Reunidas”, com coordenação, plano de edição e fixação do texto por Wander Melo Miranda - além de posfácio de Reinaldo Marques.
Estréias literárias costumam passar despercebidas, tornando-se relevantes retrospectivamente, quando o nome do autor se firma. Se, porém, a estréia é estrepitosa, dá-se o oposto: o resto da obra será observado prospectivamente a partir da estréia, cujo desempenho deve superar. A expectativa, no entanto, tende a viciar a recepção. Caso clássico é o da obra de Cyro dos Anjos e seu primeiro livro, o famoso O amanuense Belmiro, que de início comprometeria a leitura justa de Abdias. Justa no sentido de dever ser, ou não, sustentada pelo próprio romance, em vez de por comparações expectantes.
Todo estilo é feito de opções. Em Cyro dos Anjos, seus dois romances principais optam pela mesma técnica narrativa, da imitação de um diário. Mesma opção de Machado de Assis em seu último livro, Memorial de Aires, distinto de Esaú e Jacó, o penúltimo. Este, porém, não difere muito da técnica romanesca de Dom Casmurro... Usando, então, a classificação de Ezra Pound, que divide os criadores em inventores, mestres e diluidores, Machado foi, ao mesmo tempo, inventor e mestre, enquanto Cyro dos Anjos, se não foi um inventor, é um mestre consumado das técnicas de que se utiliza. Abdias o exemplifica à perfeição.
Nas palavras do posfaciador, “quando de seu lançamento [...], houve críticos que salientaram as semelhanças [com] O amanuense Belmiro: permanência de um estilo clássico [...], acossado pelas experimentações modernistas; presença de um narrador-personagem, empenhado na escrita de um diário, no qual registra seus devaneios, amores, impressões resultantes de estímulos da vida urbana, de um ambiente muitas vezes tedioso, típico da sociedade pequeno-burguesa; divisão do narrador entre a expressão espontânea das emoções e os constrangimentos da análise, contrapondo-se a turbulência afetiva ao caráter organizado e racional do discurso, em que a escrita do diário acaba sendo um meio de autocontrole, um ponto de equilíbrio; tom intimista e força lírica do mergulho na interioridade, permitindo a exposição delicada de estados de alma e sensações conflituosas, matizada por forte carga reflexiva”. Características tais e tantas que justificam plenamente toda uma obra, que dirá dois romances (para não falar da maestria do estilo: “deliberei não estar apurando risinhos sorrelfos ou sorrateiras malícias” [p. 21]).
Resta dizer que o anti-herói pequeno-burguês Abdias é o (já) clássico anti-herói da modernidade. No medíocre contexto da tríade “magistério, jornal e emprego público” oferecida na primeira metade do século XX no Brasil ao intelectual amansado, Abdias, advogado sem entusiasmo, casado e “pai de família”, vê o convite para dar aulas num colégio de meninas ricas com expectativa e vaidade intelectual. Sua vida será, porém, conturbada pela paixão platônica ambiguamente correspondida por uma aluna de 17 anos, o que não deixa de corresponder à emergência das paixões políticas, econômicas, sociais, culturais e urbanas que marcam a época (e, portanto, o livro), às vésperas da Segunda Guerra.
Nome
ABDIAS
CodBarra
9788525043764
Segmento
Literatura e Ficção
Encadernação
Brochura
Idioma
Português
Data Lançamento
Páginas
232
Peso
315,00
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