A Verdade sobre os Bebês é uma obra irônica desde o título. Pois o que há aqui não é, para o desespero de uns e alívio de outros, a revelação absoluta e incontestável dos segredos dessas pequenas criaturas que encantam pais e avós no mundo inteiro. O que este livro contém são doses verdadeiras da perplexidade cotidiana que toma a mente, o corpo e o coração dos adultos diante da experiência de ter um filho.

Entre uma troca de fralda e outra, no despertar de noites maldormidas, o escritor Ian Sansom foi acumulando, numa caixa de sapatos guardada sob sua cama, anotações esparsas sobre a vida a partir da chegada do bebê. São observações precisas e divagações, diálogos com seu filho, descrições de cenas típicas, registros dos hábitos, dos objetos e de toda a parafernália que altera material e espiritualmente a geografia do lar e de todos que ali estão quando a criança se torna o centro inevitável das atenções.

Num mundo dominado pela infantilização de homens e mulheres bem crescidos, a voz deste autor é uma manifestação sincera e generosa da maturidade inteligente. Sincera na medida em que livre dos receios de expor seus sentimentos, suas dúvidas, alegrias, raivas e apreensões. Generosa por compartilhar uma experiência a um só tempo única e universal. O que se cria, então, ao longo desses verbetes confessionais, pontuados por citações de poemas, ensaios e textos de ficção da literatura mundial, é uma profunda cumplicidade com o leitor.

“Você às vezes é chato. Desculpe. Eu também.”

“Estamos obcecados. Alguns dias não somos capazes de falar sobre qualquer outra coisa. Nós respiramos você.”

“Mesmo quando não nos orgulhamos de nós mesmos, mesmo quando estamos totalmente deprimidos, ainda é possível nos orgulharmos de nossos filhos. Este orgulho é um alívio e, ao mesmo tempo, uma pressão.”

“Começo a reconhecer padrões nas emoções: medo e depressão de manhã cedinho; exaustão na hora do almoço; alegria por volta das sete. Esses padrões por acaso coincidem com as suas horas de acordar e dormir.”