Como explicar o fato de estarmos em um mundo que ao mesmo tempo em que desafia todos os limites na manipulação da natureza valoriza as coisas “naturais” na mesma proporção? Partindo da constatação deste paradoxo, o autor faz uma análise sociológica da valorização da natureza no mundo contemporâneo, analisando as suas significações e condicionantes sociais e civilizacionais. Para isto, o autor recorre às perspectivas de autores chave da sociologia contemporânea (como Giddens, Beck e Latour) delineando a tese de que a revalorização da natureza obedece à busca de um refúgio de confiança perante as incertezas inerentes à sociedade atual. Esta tese é ilustrada através do exame da produção de alimentos pelos movimentos de agriculturas alternativas, onde se verifica como diferentes condicionantes sociais conduzem a construções diferenciadas do que é considerado “natural”. Esta análise remete a uma reflexão de caráter mais geral na medida em que revela como a natureza é imputada de qualidades, que não lhe são necessariamente inerentes, mas que espelham os conceitos e valores dos sujeitos sociais.