O conto breve é um gênero bastante difícil. Ele contém todos os elementos do conto convencional, mas de modo compactado. Prima pela sugestão, pelo não dito. No conto breve não raro o não dito, o subtexto, é muito mais importante do que o dito, o texto.

Já disseram que esse grande contista que é Rinaldo de Fernandes, no Brasil, é um legítimo herdeiro de autores como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Rubem Fonseca e Sérgio Sant’Anna. Rinaldo, para além do esplêndido narrador que é em contos como “O perfume de Roberta”, “Beleza” (vencedor do Prêmio Nacional de Contos do Paraná), “Ilhado”, “Dois buracos para os meus olhos”, “Duas margens” (já levado para o cinema) e “O cavalo”, é, no conto breve, reduzido, um imenso poeta da prosa.

“Mestre do conto” – foi assim que Regina Zilberman, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e uma das mais importantes estudiosas de literatura do país, se referiu a Rinaldo num ensaio refinadíssimo, no qual aborda uma série de contos do autor. Rinaldo, que passou dez anos burilando, lapidando os contos deste livro, é mesmo um mestre da narrativa curta, já com inúmeros trabalhos acadêmicos sobre a sua ficção e com textos que caíram em vestibulares e em concurso público.

Os contos aqui coligidos transitam entre uma abordagem sociológica, de viés até mesmo neonaturalista, e uma psicológica, de teor intimista, introspectivo. Há também certas narrativas que adentram o fantástico. Os temas? Violência urbana, preconceito de classe e de cor, degradação moral na vida brasileira, desarmonias familiares, desencontros amorosos, paixões, solidão, etc. São contos cáusticos, mas também líricos. É um eixo importante da estrutura do livro – o dado cáustico, impiedoso, e o poético.

Livro definitivo, que confirma a grande arte de um escritor. De leitura imprescindível aos amantes de contos plásticos, incisivos, elaboradíssimos na linguagem – e de alto teor humano e social.