Neste livro, o autor, ao reconstituir a origem e a evolução da ideologia e da prática da violência em nome de Deus, com maior ênfase nos momentos marcantes do cristianismo e do islamismo, evidencia elementos históricos que escapam à visão ocidental. A jihad islâmica no século XX emana do questionamento dos valores ocidentais. Contudo, sua motivação é eminentemente espiritual, na qual o que importa é o mundo transcendente e eterno e não a vida terrena. Também o cristianismo se valeu da espiritualidade guerreira em sua origem para se firmar enquanto religião no Mundo Antigo e, na Idade Média, para se estabelecer definitivamente. E, ainda hoje, a sacralização da função político-militar está presente na Igreja Católica, que não chegou a se afastar muito da doutrina tradicional no que se refere à questão da guerra e da violência, mesmo após o Concílio do Vaticano II, na década de 60. O princípio do pensamento teológico das duas religiões - embora elas próprias neguem que possuam algo em comum - é, por mais paradoxal que seja, de que o uso da força não se contrapõe aos valores humanos. É como se vivêssemos em um estado hobbesiano, no qual o homem que não respeitar o seu semelhante ou as escrituras terá a devida punição, visando sempre o bem-comum. Explicitando como a religião engloba diversos campos da vida social, ainda que seu fundamento seja religioso, o autor expõe ainda as particularidades da guerra santa no judaísmo, hinduísmo, budismo, confucionismo, taoísmo e entre maias e astecas. E demonstra que a espiritualização e santificação da guerra são universais.