Assim como Mirna, personagem que dá título ao primeiro livro de contos de Fabiano Vianna ("Quem costura quando Mirna costura?", de 2021), que recebe do autor a tarefa de costurar as histórias a fim de dar um sentido entre elas, os leitores destes novos textos ficarão curiosos ao se depararem com os potypos, com a galinha médium e a galinha bicéfala, com o minotauro-piá, o lobisomem alfaiate e o lobisomem anão, ficarão também intrigados com a invasão de sapos e viajarão no espelho de Ana (também personagem do livro anterior) para uma Curitiba que existe na memória de um tempo (por mais antagônico que pareça, e por isso fabuloso) não vivido pelo autor. Na verdade, pouco importa que ele não tenha vivenciado essa época, pois, da mesma forma que faz Patrick Modiano, o arqueólogo da memória, Vianna parece se interessar mais pelas sombras dos fatos, do que pela realidade deles e se apropria naturalmente da afirmação do autor francês: e mesmo onde não há, eu procuro os mistérios.