Em uma narrativa íntima, Julia Simões registra os resultados de uma missão de importância pessoal: resgatar rastros do passado de sua família. No centro dos mistérios que a autora investiga estão seus avós paternos - um imigrante português que ela nunca conheceu e uma gaúcha nascida na fronteira com o Uruguai, com quem conviveu por boa parte da vida -, além de seu enigmático pai. Com delicadeza e profundidade afetiva, Julia busca preencher e entender, quando possível, os vazios deixados pelo implacável silêncio cultivado entre os familiares. Os episódios que a autora relata e sobre os quais se debruça compõem uma trama particular que encontra facilmente intersecções com uma história coletiva, quiçá universal. Na ampla paisagem do pampa gaúcho e no imenso oceano que simboliza a memória da imigração, Julia Simões recupera imagens que dão alguma materialidade à vertigem do passado e investiga corajosamente os ruídos restantes de um prolongado pacto de silêncio.

“Memórias são subjetivas, não guardam os fatos em si, mas experiências vividas, necessariamente imprecisas. E todo o processo de desvelamento das memórias envolve ocultamentos, silenciamentos e esquecimentos, que levam à dúvida - a frágil linha entre memória e imaginação, ou recriação. E a dúvida é um motor poderoso…”