Em nossos tempos talvez haja poucas coisas tão importantes quanto refletir sobre o que, como sociedade, fizemos com o nosso passado. A construção das vítimas da ditadura no Brasil (1979-2014), de Lívia de Barros Salgado, nos leva a fazer isto por meio de um dos passados nevrálgicos para o nosso presente: aquele da ditadura militar instalada em 1964. Não é exagero dizer que o silêncio sobre os crimes cometidos pela ditadura é uma das mais bem-sucedidas e eficazes políticas de esquecimento e silenciamento institucional impostas à sociedade brasileira desde 1964. Central nesta política de esquecimento sempre foi a transfiguração, por meio de um jogo de luzes e sombras, de uma ditadura terrorista em um “regime de ordem” e de seus adversários em “criminosos”.