Este não é apenas mais um livro sobre a dor, a morte, o sentimento e as sensações de perder alguém muito próximo. É mais: um relato duro, perplexo, desesperado, de uma filha assistindo o adoecer e o morrer da sua mãe devido a complicações decorrentes de um atropelamento inusitado, inesperado: na calçada. E o desespero e a dor não se extinguem com a morte e o luto, mas acompanham-na por anos, não apenas porque perder a mãe é algo para o qual nunca estamos preparados, mas porque a Justiça brasileira, por duas vezes, eximiu de culpa aquela que causou o acidente. “Arqueologia das Gavetas (um relato sobre a perda e sobre o luto)” é também um resgate da relação entre filha e mãe, além de uma tentativa da autora de compreender e trazer de volta à vida a mulher que foi Nara Beatriz Lopes Da Cunha. Por saudades. Como diz na introdução do livro: “Este texto é uma tentativa de narrar essa perda e também de recuperar parte da sua vida, da nossa vida, de tentar recuperá-la para mim. Uma espécie de prótese ou muleta. Não me trará a mãe de volta, mas contribuirá para mantê-la viva”. Eis o poder da literatura: vencer a morte, perpetuar a vida para a posteridade.